terça-feira, 12 de junho de 2012

UM DIA NEGRO


Dois irmãos que restaram de uma família outrora unida e numerosa, despertaram ao som dos fortes motores de Pesados que sobre si se fizeram sentir com estrondo, rugido cuja troada a diminuir se desvaneceu, à medida que rolavam na Via, afastando-se.
 Olharam-se com incredulidade, e o mais novo pediu, demandante, ao mais velho: - Dá aí a lata, tá aí, atrás de ti. Este, ensonado, resmungou-lhe: - Ainda é cedo, mija lá para baixo, se quiseres.
Dizendo isto, voltou-se, encolheu-se para cobrir e aconchegar melhor o corpo, que em concha tinha encontrado um poiso sem pedras.
Esta é a aurora de mais um dia negro de quem pernoita debaixo da segunda circular. Enquanto os dilectos servidores do povo, descansam, sonhando a sono solto nos seus leitos, longe da azáfama e do bulício, a terem pesadelos com viagens de comboio e ovinos a pastar na paisagem campestre que pela janela do cómodo wagon lit conseguem avistar, interrogando-se: - Onde estou? para onde me vou?

" Ah! Portugal, Portugal, do que é que estás à espera? Tens um pé na Galera, e outro no fundo do Mar!!"